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terça-feira, 8 de novembro de 2011

Diamantes de vidro

O cheiro de peru impregnava a casa inteira, a mesa era farta, de uma fartura vista somente nessas datas festivas, ouviasse o som das conversas, das risadas, do bater dos talheres....Na casa estavam reunidos avós, pais, tios, primos próximos e distantes juntos de outros parentes que nem sequer imaginava a existência...tinha tudo para ser uma ceia feliz....mas ela se sentia estranha....
Talvez porque não acreditava naquela cena de filme feliz de natal americano onde todos estavam bem...conseguia enxergar o sorriso enferrujado de parentes que diziam que se importavam, os olhares das primas e tias que não deixavam nenhum detalhe escapar para depois comentar em voz baixa quando virasse e soltar risinhos cínicos, a tia intrigueira que observava os bens de todos que ali entravam e já arquitetava de quem pediria dinheiro quando precisasse ou com quem armaria o próximo barraco....
Chamaram a todos para sentar a mesa. Ela se sentia estranha em meio aquela alcatéia de cordeiros, alguns não conseguiam esconder os dentes afiados quando diziam frases como "eu me importo com vc", "como vc está linda", "senti saudades", outros estavam com os dentes tão cariados que nem ousavam abrir a boca....
E assim a ceia teve continuidade, os outros falando animadamente, tentando puxar conversa e ela respondendo somente ao que lhe era perguntado com um sorriso constrangido no rosto...não queria se misturar a eles, não queria se tornar um deles....
Finalmente, no relógio estava marcado 00 horas, eles se levantavam e se cumprimentavam, desejando um feliz natal, felicidades e bençãos a pessoas que logo não mais veriam ou cuja felicidade era a última coisa que desejavam.... tias distribuiam "beijos de Judas"...primos se abraçavam....
A hora do fim da "ceia" estava próxima, ela se sentia sufocada naquele meio e contava as horas para o momento da despedida que finalmente chegara....
Na saída a tia anfitriã abraçava a todos dizendo belas frases ensaiadas e não perdendo a chance de mostrar o anel de diamante que ostentava, um diamante de vidro tão verdadeiro, puro e sincero como aquela noite....
Finalmente saíra daquele ambiente, estava feliz...estava livre...